Flash das JMJ Rio de Janeiro 2013
"Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso recebi: Jesus Cristo.”
“Perfeito, eu tenho um pecado grave. Nunca dou ouvidos ao que este pessoal da segurança diz.”
“Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal de seu imenso coração. Por isso, permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a essa porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês”
“Cristo bota fé nos jovens e lhes confia o futuro de sua própria causa. Também os jovens botam fé em Cristo.”
“Corremos o risco de criar uma geração que nunca terá trabalhado. A crise mundial não está tratando bem os jovens.”
“Vocês já têm «Deus brasileiro»! E ainda querem um Papa brasileiro? Não se conformam com nada?!”
“Sei bem que, quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode colocar mais água no feijão! E vocês fazem isso com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração.”
“Nenhum espaço de pacificação será duradouro numa sociedade que deixa à margem, que abandona na periferia, parte de si mesma.”
Papa Francisco
São algumas das palavras que o Papa Francisco fez ecoar na sua estada no Brasil durante a XXVIII Jornada Mundial da Juventude, em que, por graça de Deus, pude participar, acompanhando um pequeno grupo de jovens vicentinos (2 da SSVP e 5 da JMV).
Houve problemas, nomeadamente, de previsão e de organização que se repercutiram “dolorosamente” no físico e na paciência dos peregrinos; porventura esses não foram notícia, mas houve. Mas, na minha cabeça, ficaram muitas palavras e, sobretudo, muitas imagens inesquecíveis.
O que pode ser mais bonito: um Papa acossado por todos os lados, por mães e pais orgulhosos dos seus filhos, jovens, meninos e crianças que por vontade própria, que se pisavam e acotovelavam para ter um toque ou quanto muito um cruzamento de olhares? Ou os “bandos” de jovens, com as bandeiras dos seus países de origem, caminhando pelas avenidas, ruas, calçadas e areais das praias do Rio de Janeiro, a quase poderem ser multados por “excesso” de alegria a transbordar pelo rosto? Ou aquela imagem final de Copacabana, coberta de gente? Nestes dias a cidade do Rio de Janeiro tornou-se mais maravilhosa do que nunca.
Aquelas imagens tiveram um brilho e intensidade, que as dificuldades têm que contentar-se a serem simples sombras que nunca ensombrarão o que lá se viveu e partilhou. Aliás, a ideia de peregrinação não é exatamente a dos confortos e bem-estar!
Mas, meu Deus, de onde veio tanto entusiasmo? Não diziam que a Igreja estava a acabar, vergada ao peso dos escândalos? Não diziam que os jovens já não querem mais nada com esta “instituição velha”?
Bem, ela pareceu-me mais viva e jovem do que nunca. Bem sei que posso estar a cair num certo triunfalismo – aliás, oposto ao realismo que o Papa Francisco revelou. Mas assistimos, nestes dias, a autênticos milagres.
Mas o que pediu o Papa aos jovens? Pediu aos jovens que saiam à rua. No seu já característico ritmo ternário, desafiou-os: “Ide,/ sem medo/ para servir.” É todo um programa de vida que aqui está contido.
“Ide”: sair de si, do bem-bom caseiro, abrir o coração para os mistérios da vida, reservar espaço para o “outro” que está ao teu lado, que pode parecer um chato, mas sempre tem algo de bom.
Acho que a parte mais carismática – isso mesmo, enquanto Ação do Espírito Santo – da JMJ 2013, foi a passagem e proximidade de um mestre espiritual. Sim, o Papa Francisco é simpático, como dizem os brasileiros, um paizão. Mas, reparei numa coisa: ele não ri o tempo todo; não mantém “sorrisos amarelos” e fictícios; ele não faz gestos teatrais. Cada gesto seu é uma “encíclica”.
Onde é que já se viu manter 3/4 milhões de jovens silenciosos? Onde é que já se viu fazer as perguntas que devem ser feitas a uma multidão imensa e esperar as suas respostas? Um demagogo não faz isto; não quer que as pessoas pensem por si mesmas; quer exercer uma espécie de hipnotismo barato!
Mas o Papa Francisco, não! Ele quer e pediu que nós pensemos, que meditemos sobre este tesouro inesgotável que é a Fé Cristã. Quer que sejamos campus fidei – campo da fé – onde se pode “semear, treinar e construir” um mundo novo. Pediu que, como a Virgem Maria, de quem é profundo devoto, guardemos “estas coisas no coração”. Pediu que os jovens rezem e que depois vão para a rua. Não quer uma religião de portas fechadas, de carácter sectário. Quer uma comunidade de fé aberta ao mundo – e que nunca perca a sua identidade que lhe advém do encontro com Cristo.
O Papa sabe bem em que mundo vivemos. Conhece-o bem! E sabe, igualmente, que o desejo da transcendência mora no coração do homem, insatisfeito com esta cultura que só oferece o material e o sensitivo. Por isso, não se cansa de recordar e pregar uma transcendência encarnada. O Cristão recebe a visita do infinito mas não pode ficar a “olhar para o alto”; há gente ao nosso lado clamando por justiça, pão e liberdade.
Finalmente, quero concluir, lembrando o lema ternário com que o Papa Francisco nos enviou: “Ide, / sem medo/ para servir.”
Assim, Deus nos ajude!
P. Fernando Soares, CM
Assessor Nacional da JMV de Portugal